domingo, 5 de junho de 2011

Araucária: uma floresta em extinção

A conservação da espécie, famosa por seus atributos comerciais, é prejudicada pela economia

Gabriela Titon

Imagine se as futuras gerações paranaenses só tiverem a oportunidade de conhecer um dos grandes símbolos do seu Estado através de fotografias. A Mata de Araucária, que ocupava 200 mil quilômetros quadrados no Brasil - sendo 80 mil no Paraná - está reduzida a aproximadamente 3% deste total. Além de ser explorada pelo seu valor econômico, a espécie também perdeu espaço para o avanço da agricultura. Outro fator que dificulta a sua preservação é o longo ciclo reprodutivo: a produção de sementes normalmente ocorre entre 15 e 20 anos de idade.

A Araucaria angustifolia está presente no ecossistema conhecido como Floresta Ombrófila Mista, que compõe um dos biomas com maior diversidade no mundo: a Mata Atlântica. O pinheiro era tão constante na região sul do país que chegou a nomear a capital do Paraná: a palavra Curitiba, inicialmente utilizada pelos indígenas, significa “imensidão de pinheiros”.

Atualmente, compõe a lista de espécies ameaçadas do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). A Mata Atlântica é considerada, ainda, um hotspot: uma das zonas do planeta mais ricas em biodiversidade, mas também mais passíveis de destruição. Os hotspots representam regiões que já perderam 70% da vegetação original.

O pinheiro está protegido pela lei federal 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais ou Código Ambiental. A lei proíbe o corte da árvore e determina as devidas punições para quem for apreendido com madeira ilegal. O decreto 6.514, de 22 de julho de 2008, também desempenha essa função.

De acordo com o engenheiro florestal e professor universitário Antonio José de Araujo, a proibição desempenha uma função mais conscientizadora do que preservacionista. “As políticas vigentes são equivocadas e causam o efeito contrário. Não se protege a araucária com arame farpado”. Para Araujo, as apreensões representam “uma gota em um oceano”, já que a produção da espécie chega a milhares de toneladas. Ele comenta, porém, que ao ser pauta na mídia, ocorre novamente o efeito de conscientização.

A espécie está reduzida a 3% da área original

Alimento popular

Outro fator que torna o Pinheiro-do-Paraná visado é a comercialização de sua semente, o pinhão, proveniente do fruto chamado pinha. O alimento contém vitaminas, cálcio, fósforo e proteínas. Além de ser tradicional nos cardápios em meses frios, também faz parte da dieta de animais como pássaros e roedores. Inclusive, um município paranaense recebe este nome.

Muitos agricultores encontram no comércio do pinhão uma forma de contribuir com o orçamento familiar, como é o caso de Volmir Prata. “A venda, até julho, representa um valor significativo na minha renda. É uma grande ajuda”.

Entretanto, a comercialização é permitida somente em determinada época do ano. Em 1976, foi criada a portaria normativa DC-20, que proíbe em todo o território brasileiro a colheita, o transporte e a comercialização de pinhão antes do dia 15 de abril.

Araujo afirma que um dos problemas envolvendo a utilização da Araucaria angustifolia e de sua semente é o fato de se explorar a árvore, mas não se plantar outras unidades. “É necessário que aconteça um manejo da espécie: gerenciar, colher os benefícios e tornar-se sustentável, pois atualmente não há sustentabilidade no assunto”.

Volmir Prata é apenas mais um agricultor que condiz com a atitude de outros setores da economia. Apesar de ter consciência da necessidade de preservar a árvore da qual usufrui, não planta araucárias. Ele simplesmente colhe o pinhão daquelas já existentes, contribuindo com o ciclo da exploração.

É proibido a colheita do pinhão entre os meses de abril e junho

Editado por Poliana Kovalyk

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